O objetivo do presente texto consiste na apresentação
de uma proposta de planejamento de estudos e na articulação de conceitos
relevantes para a montagem do seu próprio planejamento. A intenção é que aqueles
que já contam com um plano estruturado possam refletir sobre a sua eficiência e
a conveniência de promover algum ajuste, bem como aqueles que não contam com um
plano montado identifiquem caminhos voltados à sua estruturação.
Para a
montagem de um planejamento de estudos uma primeira premissa relevante consiste
na idéia de que a preparação deve contar com dois objetivos principais, sendo um
mediato e outro imediato. O objetivo mediato, correspondente ao fim último,
consiste na aprovação, sendo que o objetivo imediato e mais direto consiste na
apropriação intelectual e cognitiva do conjunto de informações e conhecimentos
passíveis de cobrança no momento da prova.
Tais compreensões decorrem da
idéia de que para passar existem duas condições a serem atendidas, sendo uma
formal e a outra material. A condição formal consiste no alcance da pontuação
necessária considerando os parâmetros do edital, ao passo que a condição
material consiste na disponibilidade intelectual e cognitiva das informações
cobradas na prova. Obviamente que a segunda condição viabiliza a
primeira.
Infelizmente, muitos candidatos iniciam o processo de
preparação para o concurso público sem a compreensão e clareza destas premissas,
isto é, não contam com devida compreensão do sentido do processo ao qual estão
se submetendo.
A proposta de estruturação e execução do planejamento de
estudos que venho apresentando exige a compreensão e desenvolvimento da
preparação em duas fases. A primeira fase tem como fim a apropriação primária do
objeto de conhecimento a ser estudado. Já a segunda fase tem por objetivo a
apropriação secundária, o que corresponde à manutenção e aperfeiçoamento das
informações apropriadas intelectualmente na primeira fase.
A primeira
fase termina com a conclusão da execução do planejamento estabelecido. A segunda
fase termina com a aprovação no concurso público.
O planejamento da
primeira fase da preparação se estrutura em torno de quatro elementos, sendo os
dois primeiros correspondentes ao planejamento estratégico e o terceiro e quarto
ao planejamento tático. O planejamento estratégico envolve aspectos decisórios
fundamentais a serem estabelecidos pelo candidato, ao passo que o planejamento
tático consiste nos meios eleitos para a implementação do planejamento
estratégico.
O primeiro elemento estratégico consiste na definição de
objetivo, correspondendo ao cargo ou cargos almejados. Este objetivo pode ser
específico, envolvendo uma carreira ou cargo público único e específico, ou
genérico, envolvendo um conjunto de cargos ou carreiras. O preço do objetivo
genérico é assumido pelo candidato na definição do segundo elemento estratégico,
ou seja, o programa.
O programa, em termos conceituais, consiste no
objeto de conhecimento a ser intelectualmente apropriado pelo candidato. Em
termos concretos, trata-se das matérias e conteúdos correspondentes. Se o
candidato estabeleceu um objetivo específico, o programa será aquele previsto no
último edital do concurso público realizado para o referido cargo, ou seja, o
programa será específico. Se o objetivo for genérico, o programa também será
genérico, sendo que o candidato deverá avaliar as matérias e conteúdos
semelhantes ou não, conforme os editais dos concursos de cada um dos cargos, e
estruturar o seu próprio programa, ou seja, o conjunto de matérias e conteúdos a
serem intelectualmente apropriados.
O terceiro elemento que compõe a
estruturação do planejamento, o qual se relaciona com o planejamento tático,
consiste na definição das fontes de estudo. Naturalmente que tal decisão também
envolve a definição dos processos cognitivos a serem adotados. Se as fontes de
estudos forem bibliográficas, o processo cognitivo será a leitura, a qual pode
contar com alguma técnica de estudo agregada ou não. Se o candidato vai cursar
um curso preparatório, a fonte será as aulas, sendo outro o processo cognitivo,
o qual pode variar conforme a modalidade do curso (presencial, satelitário ou
web) e mesmo a forma como o candidato participa, por exemplo realizando ou não
anotações.
O quarto elemento da estruturação do planejamento da primeira
fase de preparação consiste no levantamento do tempo e alocação de matérias. O
levantamento do tempo consiste na montagem da grade de horário, o que envolve a
apuração de quantas horas e quais as horas o candidato irá disponibilizar aos
estudos. Também é importante que o candidato apure o potencial de
disponibilidade intelectual para cada uma destas janelas a serem
disponibilizadas.
O passo seguinte consiste na montagem da grade de
matérias, o que corresponde à alocação das matérias e fontes de estudo na grade
de horários. Para isto é importante contar com critérios racionais de otimização
de esforços intelectuais e cognitivos. Um exemplo, que considero uma típica
aplicação do Princípio de Pareto à preparação para concursos públicos, consiste
em alocar as matérias tidas por mais relevantes ou de maior dificuldade nos
momentos de maior disposição intelectual e física.
Cumpridas as etapas
propostas, ou seja, definição de objetivo, programa, fontes de estudo,
levantamento do tempo e alocação de matérias ou fontes, o candidato tem
estruturado o seu planejamento da preparação para o concurso público. A partir
daí é importante contar com mecanismos de monitoramento e controle da
execução.
Esta preocupação com o monitoramento e controle, por um lado,
deve ter o sentido de acompanhar os avanços na execução do planejamento
estabelecido, o que traz repercussões inclusive no plano motivacional, no
sentido de mostrar que os esforços implementados estão levando ao objetivo
pretendido. Por outro lado, permite a construção de metas de curto prazo, o que
é fundamental para que o candidato tenha o foco no processo e não se angustie
com a preocupação do foco no resultado.
Estas atitudes devem ser adotadas
antes da publicação do edital. Ou seja, o candidato deve trabalhar focado na
execução do seu plano e não no aguardo do edital. Assim, executando o plano de
estudos adequadamente estruturado, a aprovação no concurso público passa a ser
uma conseqüência lógica, racional, cartesiana e natural.
Por Rogerio
Neiva
***Rogerio Neiva é juiz do trabalho desde 2002. Além disso, é
psicopedagogo e possui pós-graduação em administração financeira. Atua como
professor de nível superior e de cursos preparatórios para concursos.